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Entrevista Gisele para Folha de S.Paulo 11/04/2015

Folha - Você já não desfilava com a constância de anos atrás. Por que parar de vez agora? Planejava essa "aposentadoria" há quanto tempo?

Gisele Bündchen - Não é uma aposentadoria, pois vou continuar trabalhando, só não mais na passarela. Além disso, não descarto desfilar, porque já estou neste "business" há 20 anos e agora quero criar espaço para focar em outros projetos e também ficar mais com minha família.

Mas por que deixar a passarela, especificamente?

Aprendi a sentir meu corpo. Automaticamente meu corpo fala se o que faço vale a pena, e ele pediu para parar. Eu respeito meu corpo, tenho um privilégio de poder parar.

Ficou cansada?

Não diria cansaço. Não estava ruim, mas olho para minha carreira e já me sinto tão realizada. É um processo gradual de um fim de um ciclo.

A passarela foi o início desse ciclo, onde comecei, aos 14. É um final, sim. Não tem nada nesse meio do desfile que vá me acrescentar algo mais.

Me sinto satisfeita de fechar esse ciclo assim. Não vejo como fazer mais [desfilar] do jeito que estava. Se teu copo está cheio, como você vai enchê-lo ainda mais? Estou esvaziando meu copo para poder encher de outras propostas que tenho para mim.

Que projetos são esses?

Tenho muitos projetos e muitos sonhos e acredito que para conseguir realizar qualquer coisa na vida é preciso foco e determinação. Este é um dos motivos pelo quais também estou deixando de desfilar nas semanas de moda, pois quero ter mais tempo para focar em projetos pessoais. Mas sonhos a gente não conta, a gente trabalha para concretizá-los.

Por que escolheu o Brasil para essa despedida?

Meus primeiros desfiles como profissional foram no Brasil, no antigo Morumbi Fashion [embrião da São Paulo Fashion Week]. Então, achei bacana fazer meu último desfile no meu país, onde tudo começou. A Colcci, além disso, é uma grande parceira minha de anos, acho que é uma forma de prestigiá-los.

Qual foi o desfile mais marcante para a Colcci?

O desfile em que chegava de elevador [em 2007] foi muito marcante, a energia estava muito forte naquele dia. Também quando fiz as fotos da campanha com [o fotógrafo] David Sims em Boston, apenas três semanas após ter o Benjamin [seu primeiro filho, em 2009]. Naquele momento, me sentia completamente outra pessoa, estava vivendo em um ritmo muito diferente. Foi preciso me reencontrar.

Você terá convidados especiais para esse último desfile?

Sim, a minha família estará lá e também alguns amigos e fãs. O importante para mim, neste momento, é ter a minha família ao meu lado.

Qual é a diferença entre a carreira no exterior e aqui, onde sua imagem é trabalhada com marcas mais comerciais?

Trabalho cada território de maneira diferente, com estratégias diferentes. Claro que hoje com a força da internet tudo acaba se espalhando de forma mais rápida. Mas saber dosar o trabalho mais fashion com o lado mais comercial é algo que faço desde cedo.

Destes 20 anos de carreira na moda, qual a foi a maior lição que você aprendeu?

Tive que aprender a lidar com as críticas desde cedo, mas sempre fiz o máximo para focar naquilo que me deixava feliz. À medida que os anos foram passando, aprendi a não levar as coisas para o lado pessoal. Percebi que sempre haverá críticas e julgamentos, mas sempre foquei em dar o meu melhor e com o passar do tempo fiquei mais confiante.

O que está vendo, lendo e ouvindo atualmente?

Amo ler, e a música está no meu dia a dia. Gosto de escutar músicas que me inspirem, como as de meditação do [americano] Krishna Das. Também sou fã do Jack Johnson, da Marisa Monte, do Legião Urbana, do Bob Marley.

Há tempos não consigo ler um livro por inteiro. O último que li foi "Who Am I? Why Am I Here?", da Patricia Diane Cota-Robles. Agora estou aprendendo sobre o desenho humano, é uma técnica incrível para o autoconhecimento.

Você acha que o padrão de garota saudável do final dos anos 1990 se perpetuará? Na França existe um projeto de lei para exigir a contratação de modelos com IMC saudável.

Espero que sim. Não tem nada mais importante que a saúde. É muito diferente falar algo para uma menina de 14 anos e para uma de 34, como eu. A cabeça é outra. Quando entendi que precisava respeitar o tempo do meu corpo, foi a maior descoberta.

Mas acha que a indústria mudará esse padrão excessivamente magro na passarela?

Acho que tudo pode mudar. A mudança é uma constante necessária. Se as pessoas não estão focadas na saúde, sim, sou a favor de mudar.

Gente, não tenho mais tempo, tenho de pegar meu filho na escola. Tenha um lindo dia.